quarta-feira, 20 de abril de 2011

A criança tímida

A timidez é uma característica da personalidade. Não é uma doença e tão-pouco caracteriza um desvio de comportamento. A criança tímida apresenta dificuldades em lidar com situações sociais em que tenha de interagir com um grupo de pessoas, ou até mesmo com um único indivíduo.
O sofrimento emocional é tão grande que pode haver uma série de alterações orgânicas, que se manifestam em reações tais como: aceleração do batimento cardíaco, sudorese excessiva nas axilas ou nas mãos, ou ainda não conseguir olhar nos olhos dos outros. Ou seja, a criança tímida apresenta um padrão de comportamento onde não consegue lidar com situações do quotidiano, como uma simples conversa, brincadeiras em grupo, ou compartilhar momentos agradáveis com amigos e familiares. Entretanto, trata-se apenas de uma característica pessoal, que deve ser compreendida, aceita e respeitada. A intervenção paterna só deve ocorrer quando essa característica começar a atrapalhar a vida da criança, ou seja, quando ela permanecer isolada, sem amigos, com medo de se expor na escola e em reuniões sociais/familiares.
Quando uma criança é tímida, isso significa, na maioria das vezes, que ela exige demais de si própria e tem medo de cometer erros… - o que pode ser consequência de pais muito exigentes e perfeccionistas na educação dos filhos… Assim, a criança vive num grande sofrimento, pois não consegue estabelecer um vínculo afetivo com outras pessoas, o que a leva a sentir-se solitária e distante dos outros. Acaba por ficar na dependência de que os outros se aproximem dela, pois não tem coragem para fazer o contrário. Normalmente, estas crianças respondem às outras de cabeça baixa e em tom de voz muito baixo.
Algumas crianças parecem ser tímidas no primeiro contato, mas apenas necessitam de um tempo maior para observarem o interlocutor e poderem concluir que não se sentem ameaçadas na sua presença. A partir daí, o relacionamento é natural. Em alguns casos a timidez ocorre somente na presença de adultos, o que demonstra que a criança se sente “vulnerável” diante de pessoas mais velhas. Nestes casos é importante observar como as relações familiares se estabelecem, para poder identificar quais as atitudes dos pais, familiares ou educadores que estão a intimidá-la e, consequentemente, a fazê-la retrair-se.

Prepare-a para conviver bem com o Mundo!

Nos primeiros anos de vida, a presença e o convívio com irmãos, primos e amigos é muito importante no processo de socialização. É fundamental que a criança se sinta segura e protegida nas suas relações interpessoais, para que no futuro já esteja mais acostumada ao convívio. Possibilitar o contacto com outras crianças - de preferência da mesma faixa etária –, em creches, escolas infantis, aulas de natação com as mamães e os bebês e concertos musicais para os pequeninos são boas opções.
Quando chegar a hora de ir pela primeira vez à escola, ajude-a a superar as dificuldades iniciais, mantendo-se ao lado dela, de mãos dadas. Apresente-lhe os professores – os quais por sua vez lhe deverão apresentar alguns coleguinhas -, mas não a exponha em público diante de todos, pois isso fará com que ela se retraia imediatamente. Permita-lhe o tempo que precisar para explorar – com os olhos, claro! – o ambiente. Peça aos educadores que a coloquem sentada perto de crianças calmas e não invasoras, de forma a que ela se sinta mais segura. Diga-lhe que estará por perto se ela precisar, mas fora da sala/escola e, calmamente, saia. Aos poucos a criança irá “soltar-se”…

Como ajudar a criança:

- Convide-a a participar das tarefas da casa consigo ou com os irmãos: lavar as frutas, colocar/recolher as roupas no varal, ir buscar a correspondência, etc.
- Quando saírem, incentive-a, mantendo-se sempre ao lado dela, a perguntar preços ou a pedir informações.
- Fale com os professores para que também possam ajudá-lo no trabalho com o seu filho.
- Não espere que a sua criança seja a mais popular da escola e não faça comparações com outras crianças. Cada indivíduo é único!
- Fale com entusiasmo de brincadeiras em grupo e estimule a criança convidar os amiguinhos para irem em sua casa brincar.
- Apresente-lhe a possibilidade de realizar atividades interessantes fora da escola e incentive-a a participar.
- Lembrem-se: as atitudes devem partir dela. O educador deverá apenas sugerir e orientar, tendo o cuidado de não se tornar uma fonte de stress para a criança.
- Em primeiro lugar, lembrem-se sempre de que o diálogo é o mais importante em qualquer situação.
- Não digam, à frente dos outros membros da família, das pessoas do seu convívio ou dos coleguinhas da sala de aula que a criança é introvertida, tímida, ou que tem dificuldades em relacionar-se, pois isso só irá agravar a situação e fazer com que ela se retraia ainda mais.
- Falem sobre o prazer de um beijo dado com carinho ou de um abraço apertadinho, mas NUNCA exijam que ela dê beijos ou abraços. Diante de outras pessoas perguntem-lhe se gostaria de dar um beijo ou um abraço, mas respeitem se a resposta for negativa. ENTRETANTO, expliquem-lhe que cumprimentar as pessoas com um “olá”, dizer “por favor” e “obrigada”, não são negociáveis, são atitudes educadas e que devem existir sempre.
- Ensinem-na a ser autónoma nas coisas que lhe são possíveis, tais como alimentar-se sozinha, vestir-se, calçar os sapatos, escovar os dentes, etc.
- Incentivem sempre a criança, mesmo que, pelos vossos critérios, o desenho, a roupa, ou a música, não estejam tão bem como julgam ser correto…

Especialmente aos professores:

- Convide-a a participar das tarefas na sala de aula, como distribuir, recolher, lavar e guardar materiais, auxiliar os mais novos nas suas dificuldades, dar as mãos aos coleguinhas para subir/descer escadas, ir ao jardim, etc.
- Ajude-a a participar de atividades onde é necessário falar aos coleguinhas, como cantar, contar histórias, falar um verso, fazer teatro, etc.
- Fale com os pais para que também se comprometam no trabalho a ser desenvolvido com a criança.
- Não faça comparações entre as crianças. Cada indivíduo é único!
- Fale com entusiasmo de brincadeiras em grupo e estimule TODAS as crianças a participarem.
-Apresente-lhe a possibilidade de realizar atividades interessantes com os coleguinhas e incentive-a a participar: horta, jardinagem, etc.
Por Thaís H. Delboni, para site Sapo família

Nenhum comentário:

Postar um comentário