sábado, 22 de setembro de 2012

Diálogo

Muito se fala em diálogo, mas cada dia que passa as pessoas parecem usar menos esse recurso tão útil na resolução de problemas, na execução de tarefas em grupo e, por que não, na educação das crianças.
Alguns pais acham um absurdo a ideia de sentarem para conversar com os filhos. Pensam que precisam apenas dar as ordens, e as crianças precisam apenas obedecer. Outros concordam que o diálogo é importante, mas acabam utilizando esse recurso de forma errada, cansativa ou agressiva, fazendo com que os filhos tenham pouco ou nenhum interesse em gastar tempo conversando com seus pais. Uma minoria é feliz em utilizar o diálogo na educação das crianças. Eu conheço pessoas que fazem parte dessa minoria, e posso afirmar, essa estratégia funciona.
Mais do que explicar alguns dos motivos pelos quais a criança deve agir de uma forma e não de outra, o diálogo é um recurso importante na criação do vínculo afetivo entre pais e filhos. É nos momentos de conversa que a criança aprende a dividir suas angústias e alegrias com os pais, e descobre se os pais estão interessados em saber o que se passa em sua vida. Parte da confiança que a criança desenvolve em seus pais está relacionada à qualidade do diálogo que existe entre eles – “Se meus pais se importam com o que eu penso e sinto, eles querem o melhor para mim”.
É certo que para cada faixa etária existe um limite de compreensão dos porquês, mas explicar aos filhos os motivos pelos quais devem ou não agir, faz com que a criança tenha razões para fazer o que os pais estão orientando. Se aquilo que é possível de se explicar for conversado com a criança, no momento em que não for possível explicar algo ela confiará nos pais, pois até ali eles têm se preocupado e dar-lhe a melhor orientação.
Outro aspecto importante do diálogo diz respeito ao fato de que nem tudo que é óbvio para o universo adulto está tão claro no universo infantil. Às vezes as crianças são reprovadas por atitudes inadequadas que elas não sabem que são inadequadas. Elas não nascem conhecendo o mundo que as cerca e suas normas e valores. Elas precisam aprender essas coisas, e o lar é o primeiro ambiente de aprendizagem. Antes de punir a criança por uma atitude inadequada é preciso pensar se foi dado a ela chance de conhecer que aquilo não é certo. Essa comunicação de como se deve agir, que valores se deve ter, também são passadas por meio do diálogo.
Por fim, é no diálogo que estabelecem-se os acordos – se o comportamento for esse, a conseqüência será essa. A forma como os acordos são feitos (se a criança pode ou não opinar, se há flexibilidade ou intransigência, etc.), em si, já atua na transmissão de valores como justiça, respeito e honestidade.
É certo que alguns pais, em sua infância, não tiveram a oportunidade de dialogar com seus pais. Isso faz com que eles sintam-se inseguros quanto a como fazer isso com seus filhos. O segredo é experimentar e se preciso buscar ajuda profissional. Ninguém nasce sabendo. Nem os pais!

A turma do "Eu me acho"


Muitos adolescentes e jovens, hoje, possuem sua autoestima comprometida. Alguns sofrem com uma baixa autoestima, que muitas vezes se associa a alguns transtornos mentais. Outros, sofrem com algo que costumo chamar “ego inflado”, que traz também uma série de consequencias ruins. Parece que a luta contra a baixa autoestima, unida a outros fatores, têm produzido um novo extremo problemático.
Jovens e adolescentes com o “ego inflado” não sabem ouvir “não”, não suportam frustrações, não possuem habilidades suficientes para enfrentar dificuldades e desafios sozinhos. São pessoas que, em maior ou menor grau, não se importam em obedecer as leis, que não possuem habilidades para conviver bem com as pessoas, e que não toleram receber ordens.
 Muito interessante a matéria da Revista Época sobre a turma do"Eu me acho" é para os pais pensarem um pouquinho na diferença entre um elogio merecido e aplausos desnecessários o tempo todo.
 Segue link para matéria:

http://revistaepoca.globo.com/ideias/noticia/2012/07/turma-do-eu-me-acho.html




terça-feira, 4 de setembro de 2012

Transtorno Obsesivo Compulsivo na Infância (TOC)

Crianças são cheias de manias. Você bem sabe disso. Só que essa característica também está ligada a quem tem o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Para diferenciar o que é próprio da fase do seu filho ou um problema é preciso observar a frequência em que essas manias acontecem. Ou seja, quando a criança simplesmente não consegue deixar de fazê-las e sofre com isso. Mas lembre-se: só um especialista pode dar o diagnóstico. Nem tudo é TOC.

O TOC tem idade para começar?
Geralmente, começa na adolescência, mas pode aparecer na infância também, entre 6 e 8 anos, em média. Essa é justamente a fase em que a criança começa a ser ver como indivíduo e parte de uma sociedade. Até então, ela achava que era uma extensão dos outros ao seu redor. E para esse amadurecimento natural é comum que ela adote certos rituais e apresente pensamentos obsessivos. Por exemplo: as crianças costumam temer muito a morte da mãe, então, elas coçam o nariz três vezes para protegê-la, ou só andam nas pedrinhas brancas quando estão na rua. Essas pequenas manias fazem parte do crescimento. O problema está quando, junto com elas, vem um alto nível de ansiedade - e o que era só esporádico vira rotineiro e passa a atrapalhar a socialização -, como aquela criança que não consegue ir para a casa de um amigo porque tem medo de deixar a mãe sozinha e algo de ruim acontecer com ela.

Como diferenciar manias de TOC?

O TOC traz sofrimento. A criança não consegue deixar de repetir aquele ritual, e isso compromete a sua vida na escola, com a família, os amigos. É importante prestar atenção no seu filho e ver se aquelas manias típicas da infância não ultrapassam a linha do que é saudável ou não. Uma criança que tem pavor de se sujar, e precisa trocar de roupa imediatamente, e aquela que arruma o quarto de um modo que, se alguém mexer, ela se tornará explosiva, são casos que merecem atenção. Outro exemplo são aquelas que não admitem um erro: se escrevem uma palavra com a grafia incorreta, não são capazes de passar a borracha no caderno, arrancam a folha e começam tudo de novo. Mexer sistematicamente em machucados, arrancar as casquinhas ou fios de cabelo e pêlos da sobrancelha. Tudo isso pode ser indício de TOC. Mas essas coisas têm de envolver sofrimento, porque as crianças simplesmente não conseguem não fazer.

O TOC em crianças acontece da mesma forma que nos adultos?
Nas crianças há o agravante de que elas ainda vivem em um mundo permeado por fantasia. Isso quer dizer que elas realmente acreditam que, se não ficarem o dia todo monitorando a mãe pelo celular, ela poderá morrer. O adulto, por outro lado, tem consciência de que os seus rituais não são lógicos, apesar de ambos não conseguirem controlá-los. Até por isso é mais fácil o diagnóstico nas crianças. Por mais que elas não falem abertamente sobre a questão, elas dão muito mais indícios. Já os adultos se sentem constrangidos e geralmente escondem o problema.

Como o transtorno é desencadeado?
É preciso ter uma predisposição genética para desenvolver TOC e algum fator que o desencadeie. Nas crianças, pode ser um estresse prolongado (que dure entre 1 e 2 anos), como a separação complicada dos pais, algum parente com uma doença séria, o bullying na escola. Crianças com essa carga genética também serão mais perfeccionistas e extremamente controladoras. Porém, o mais importante não é descobrir o que desencadeou o TOC, mas sim tratá-lo.

E como é o tratamento?
O TOC é o transtorno que mais mexe com a taxa de serotonina, uma espécie de antidepressivo cerebral. Funciona assim: quanto mais baixo o nível de serotonina, maior a incidência de pensamentos negativos e obsessivos. Então, o primeiro passo é procurar um médico, já que o problema não melhora espontaneamente. O tratamento é medicamentoso e psicoterápico. Remédios para controlar a taxa de serotonina e terapia para expor a criança ao objeto de obsessão ou a situações que antes ela achava catastrófica – o objetivo é que ela perca completamente o medo e bloqueie o ciclo de pensamentos ruins. Por isso, os pais não podem ter preconceito em dar remédio para os filhos. No livro, uma mãe diz em seu depoimento que foi muito difícil a decisão de dar medicamentos psiquiátricos para o seu filho, mas, no fim, ela percebeu que era como se ele tomasse remédios para o coração, por exemplo. Ele teria que conviver com aquilo. Tratar o TOC na infância abre uma possibilidade enorme de que na idade adulta, fase mais crítica, o transtorno fique em um grau mais leve.

Fonte: revistacrescer.globo.com