Crianças são cheias de
manias. Você bem sabe disso. Só que essa característica também está
ligada a quem tem o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Para
diferenciar o que é próprio da fase do seu filho ou um problema é
preciso observar a frequência em que essas manias acontecem. Ou seja,
quando a criança simplesmente não consegue deixar de fazê-las e sofre
com isso. Mas lembre-se: só um especialista pode dar o diagnóstico. Nem
tudo é TOC.
O TOC tem idade para começar?
Geralmente,
começa na adolescência, mas pode aparecer na infância também, entre 6 e 8
anos, em média. Essa é justamente a fase em que a criança começa a ser
ver como indivíduo e parte de uma sociedade. Até então, ela achava que
era uma extensão dos outros ao seu redor. E para esse amadurecimento
natural é comum que ela adote certos rituais e apresente pensamentos
obsessivos. Por exemplo: as crianças costumam temer muito a morte da
mãe, então, elas coçam o nariz três vezes para protegê-la, ou só andam
nas pedrinhas brancas quando estão na rua. Essas pequenas manias fazem
parte do crescimento. O problema está quando, junto com elas, vem um
alto nível de ansiedade - e o que era só esporádico vira rotineiro e
passa a atrapalhar a socialização -, como aquela criança que não
consegue ir para a casa de um amigo porque tem medo de deixar a mãe
sozinha e algo de ruim acontecer com ela.
Como diferenciar manias de TOC?
O
TOC traz sofrimento. A criança não consegue deixar de repetir aquele
ritual, e isso compromete a sua vida na escola, com a família, os
amigos. É importante prestar atenção no seu filho e ver se aquelas
manias típicas da infância não ultrapassam a linha do que é saudável ou
não. Uma criança que tem pavor de se sujar, e precisa trocar de roupa
imediatamente, e aquela que arruma o quarto de um modo que, se alguém
mexer, ela se tornará explosiva, são casos que merecem atenção. Outro
exemplo são aquelas que não admitem um erro: se escrevem uma palavra com
a grafia incorreta, não são capazes de passar a borracha no caderno,
arrancam a folha e começam tudo de novo. Mexer sistematicamente em
machucados, arrancar as casquinhas ou fios de cabelo e pêlos da
sobrancelha. Tudo isso pode ser indício de TOC. Mas essas coisas têm de
envolver sofrimento, porque as crianças simplesmente não conseguem não
fazer.
O TOC em crianças acontece da mesma forma que nos adultos?
Nas
crianças há o agravante de que elas ainda vivem em um mundo permeado
por fantasia. Isso quer dizer que elas realmente acreditam que, se não
ficarem o dia todo monitorando a mãe pelo celular, ela poderá morrer. O
adulto, por outro lado, tem consciência de que os seus rituais não são
lógicos, apesar de ambos não conseguirem controlá-los. Até por isso é
mais fácil o diagnóstico nas crianças. Por mais que elas não falem
abertamente sobre a questão, elas dão muito mais indícios. Já os adultos
se sentem constrangidos e geralmente escondem o problema.
Como o transtorno é desencadeado?
É
preciso ter uma predisposição genética para desenvolver TOC e algum
fator que o desencadeie. Nas crianças, pode ser um estresse prolongado
(que dure entre 1 e 2 anos), como a separação complicada dos pais, algum
parente com uma doença séria, o bullying na escola. Crianças com essa
carga genética também serão mais perfeccionistas e extremamente
controladoras. Porém, o mais importante não é descobrir o que
desencadeou o TOC, mas sim tratá-lo.
E como é o tratamento?
O
TOC é o transtorno que mais mexe com a taxa de serotonina, uma espécie
de antidepressivo cerebral. Funciona assim: quanto mais baixo o nível de
serotonina, maior a incidência de pensamentos negativos e obsessivos.
Então, o primeiro passo é procurar um médico, já que o problema não
melhora espontaneamente. O tratamento é medicamentoso e psicoterápico.
Remédios para controlar a taxa de serotonina e terapia para expor a
criança ao objeto de obsessão ou a situações que antes ela achava
catastrófica – o objetivo é que ela perca completamente o medo e
bloqueie o ciclo de pensamentos ruins. Por isso, os pais não podem ter
preconceito em dar remédio para os filhos. No livro, uma mãe diz em seu
depoimento que foi muito difícil a decisão de dar medicamentos
psiquiátricos para o seu filho, mas, no fim, ela percebeu que era como
se ele tomasse remédios para o coração, por exemplo. Ele teria que
conviver com aquilo. Tratar o TOC na infância abre uma possibilidade
enorme de que na idade adulta, fase mais crítica, o transtorno fique em
um grau mais leve.
Fonte: revistacrescer.globo.com
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